O pudor e a modéstia no falar
- Diovanna Bruna
- 23 de jan. de 2016
- 5 min de leitura

Já vimos semana passada que a modéstia vai muito além do vestir. Hoje veremos a modéstia no falar, e gostaria de iniciar este tema com um pequeno texto do Padre Manuel Bernardes:
"Se lhe apresentassem à mesa o pão ou qualquer outro manjar, em um prato ou vaso que houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria contra o seu criado, por esta grosseria e desatenção! E quem duvida que muito mais repreensível é que a língua de um fiel, que serve de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comunga, sirva de instrumento a palavras torpes e indecentes? (p. 530) Sobre palavras torpes e indecentes” Padre Manuel Bernardes)*
Você já parou para pensar nisso antes? Que quando comunga, tendo praticado os pecados da língua, você recebe o corpo santo de Cristo em uma patena suja? Por isso, a modéstia vai muito alem do modo de vestir. Para expor suas virtudes exteriores, antes é necessário que o seu interior seja mudado, pois de nada adiantará você estar vestida(o) modestamente se você continua a usar da língua para atacar as pessoas, falar sobre assuntos maldosos e impuros. Chega a ser hipocrisia. Vestir roupas curtas não pode, mais falar mal, julgar e maldizer o irmão, pode?
Vejam bem, não estou dizendo que devemos usar roupas curtas, quero apenas dizer que ambas as posturas estão erradas, mas que a modéstia precisa ser vivida por completo, como Jesus nos pede. Sejamos quentes ou frios, mas nada de mornos. (Apocalipse 3 15-16)

Pecados contra a língua, todos nós já cometemos. Quantas vezes, por exemplo, chegamos mais cedo para a missa e ficamos fazendo fofoca para aquela amiga(o) na porta da igreja? Ficamos cuidando da vida alheia, vendo quem entra, quem sai, com quem entrou, com quem saiu, e fazendo aqueles comentários maldosos do tipo : “Nossa você viu a fulana? Ela chegou atrasada porque ficou de papinho com o fulano lá”.
Você consegue imaginar Nossa Senhora fazendo fofoca? Consegue imaginar ela vendo Jesus ensinar no templo fazendo fofoca de quem prestava mais ou menos atenção? Dizendo: “ah! Se fosse meu filho…” se sentindo melhor porque era a mãe do Salvador? Com toda certeza ela não fez isso.
Precisamos ser como Maria, que foi uma patena limpa e pura, capaz de gerar o Salvador com integridade. Precisamos ser como São José, que até no dia em pensou em abandonar Maria, pensou em fazer isso em silencio.
“Quem usa de semelhante linguagem, por mais que se desculpe, dizendo que lhe não entra da boca para dentro, e que é só para rir e passar o tempo, o que dá é claro indício de que o seu interior está corrupto. Porque,oráculo é de Cristo Senhor nosso que a boca fala conforme o de que abunda o coração: Ex abundantia enim cordis os loquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus pensamentos; e claro é que o que vem à língua, primeiro esteve no pensamento; e ainda Sêneca assentou que o modo com que cada qual fala é o translado ou cópia do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vir, talis oratio... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que verdade afirma que lhe não entram no coração? E se até os sonhos de um adormecido *e os delírios de um frenético são ordinariamente das coisas a que a natureza estava acostumada, quanto mais se conhecerá o nosso interior pelas palavras que proferimos, estando em nosso siso e liberdade?” (p. 530/531 Sobre palavras torpes e indecentes - Padre Manuel Bernardes)*
Quantas foram as vezes que estivemos em um grupinho de amigos que não são da igreja conversando coisas não muito apropriadas para um Cristão e pensamos: “Ah é só para me enturmar com a galera, rir um pouco, afinal, Deus sabe que eles não são da igreja e eu não faço por mal.” Em Mateus 15:11 Jesus diz que não é o que entra na boca que mancha o homem mais aquilo que sai dela.
Na oração de consagração a Nossa Senhora, nós lhe entregamos também nossa boca: "Ó minha Senhora, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a vós, e em prova de minha devoção para convosco, eu vos consagro neste dia meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E como assim sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa, amém". Será mesmo que Nossa Senhora falaria as coisas que muitas vezes dizemos? Uma das grandes virtudes de Maria é o silencio e Jesus nos adverte: Os homens terão de dar conta, no dia do juízo, de toda palavra inútil que tiverem proferido (Mt 12,36).
Se você estiver em um grupinho de amigos no qual o assunto não lhe convém, deixe que eles conversem e apenas silencie. Na minha faculdade, muitas vezes meus amigos entram em assuntos que não me convém e eu simplesmente prefiro silenciar. Com o tempo, eles mesmos perceberam que aquelas conversas não me agradavam e quando eles entravam no mesmo assunto e pensavam em pedir minha opinião, diziam: “A Diovanna não conta, ela é de igreja, ela é pura. Seus amigos precisam começar a perceber que você não se enquadra nos padrões do mundo.”
A melhor maneira de não pecar, seja no modo de falar ou em qualquer outra circunstância, é fugir do pecado e, no caso da modéstia no falar precisamos, sim, muitas vezes, silenciar. Se para você essa é uma tarefa difícil, comece a fugir do pecado aos poucos. Se ver seu irmão fazendo algo que não lhe agrada e você esta pronto para julgar, evite “olhar” para os erros do irmão, procure as qualidades. Se estar com amigos que falam muitas besteiras te faz falar também, evite estar no meio desses assuntos.

A modéstia no falar envolve também como corrigimos as pessoas. Jesus sempre “corrigiu” com amor, só há uma passagem na bíblia na qual Jesus repreende com “aspereza e com raiva,” que é a em que ele entra no templo e expulsa todos que ali faziam da casa do pai um um covil de salteadores. (Marcos 11:15-19)
Precisamos falar com as pessoas com amor, falar como Maria falaria.
São Francisco de Sales dizia: “Não há nada que tanto edifique o próximo como a caridade benignidade no trato”.* Se chegarmos para corrigir uma pessoa com brutalidade, é bem provável que ela não te escute e passe a fazer pior do que fazia só para te afrontar, ou ate mesmo abandone a igreja sentindo-se inferior e incapaz. Precisamos cuidar das pessoas como Maria cuidaria, como uma Mãe que percebe o erro do filho e vai com sabedoria ensiná-lo a trilhar os caminhos do Senhor. Claro não podemos deixar de corrigir o irmão, pois se não cometeremos o pecado da omissão. Corrigindo com o amor, a pessoa verá que queremos apenas ensiná-la , queremos apenas o bem dela, e assim nos ela nos ouvirá.
São Vicente de Paulo afirmava jamais ter conhecido um homem mais manso parecendo-lhe ver a imagem viva da bondade de Cristo, como São Francisco de Sales, ele tinha um sorriso nos lábios, era gentil em suas maneiras, respirava mansidão. Mesmo quando sua consciência lhe obrigava a negar alguma coisa, o santo mostrava tanta benevolência com as pessoas que elas iam embora contentes, mesmo quando não obtinham o que desejavam. Era manso para com todos, com os superiores e com seus amigos, com seus inferiores, com as pessoas de casa e de fora. Era bem diferente dos que, segundo sua expressão, “parecem anjos na rua e demônios em casa.”*
Que busquemos então ser como os santos e principalmente como Jesus, falando com amor, e só quando necessário ser um pouco mais rude. Busquemos ser como Maria que silenciava e guardava tudo em seu coração.
Oração:
Pai ,que hoje eu possa saber fazer silêncio! Que eu saiba calar na hora exata e nessa hora lembrar-me de observar que na melodia da Vida prevalece a Tua arte e, que em meio a qualquer som, Tu sempre soarás mais alto e jamais hás de calar-Te. AMÉM!
*Leia: A PRATICA DO AMOR A JESUS CRISTO, por Santo Afonso de Ligório, Editora Santuário pg 69,70 e 71 http://a-grande-guerra.blogspot.com.br/2009/09/palavras-torpes-e-indecentes.html
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